Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











quinta-feira, março 02, 2006

Congo 2001 - A Expedição, palmilhar a floresta

Andar a pé seis ou sete horas por dia, a vasculhar a floresta, à procura de mais e mais evidências sobre o animal em questão. A verdade é que os indícios eram, muitas vezes, contraditórios… encontrámos dezenas de camas feitas de folhas de um determinado arbusto. Tanto chimpanzés como gorilas fazem o mesmo tipo de camas. Os chimpanzés costumam fazê-las no alto das árvores, os gorilas no chão, porque são demasiado pesados e medíocres trepadores. A maioria das camas que encontrámos foram feitas no chão, mas algumas seriam demasiado pequenas para serem camas de gorilas...As fezes… enfim, além de naturalmente cheirarem a merda, dividiam a opinião dos cientistas… uns diziam que pareciam de gorila, devido ao volume (encontraram uma poia com 700 gramas…), outros diziam que eram típicas fezes de chimpanzé, devido aos vestígios de alimentos que revelavam. Encontrámos pegadas enormes, que poderiam bem ser de gorila. Mas pegadas não são evidências seguras, porque o tamanho da impressão depende não só do tamanho do animal, como do peso que faz, da estrutura do solo, da velocidade da caminhada... Esta expedição científica demonstrou que a ciência ainda pouco sabe sobre gorilas e chimpanzés, malgrado estes serem biologicamente os parentes mais próximos do homem. O homem e os grandes símios partilham 98% do DNA e partilhamos os mesmos antepassados biológicos. Mas o homem não tem tido qualquer respeito por esse parentesco. A ganância da espécie humana está a dar cabo dos habitats dos grandes símios africanos. À medida que a floresta vai caindo, avançam os caçadores de animais selvagens. Hoje, já quase não há territórios virgens no continente africano. As guerras feitas pelo homem, com a destruição que acarretam, provocaram o extermínio do gado e, em muitos territórios, as populações voltaram a caçar para sobreviver.

2 comentários:

Isabela Figueiredo disse...

Tens escrito imenso sobre esta expedição, e eu não tenho comentado, embora leia com atenção. Muitas vezes custa-me comentar as coisas que mais me tocam. Há assuntos sobre os quais não falo e não escrevo porque não suporto o que sei que me vão dizer a seguir, porque isso me fere, porque a incompreensão é total.
Não me incomoda muito que se cace para sobreviver. Que se cace à medida das necessidades. Incomoda-me muito que se cace para conquistar território à selva, para arranjar troféus de caça, para conseguir patas, dentes, cabeças, peles. Isso é chacina e magoa-me terrivelmente. E eu detesto este mundo por causa disso; porque não compreendo isso e, portanto, nãocompreendo o mundo.
Sempre tive muitos problemas para dormir. Toda a vida, para aí desde os meus 7 anos. Havia uma fantasia a que recorria para adormecer, e a que ainda recorro, menos, mas ainda acontece.
Imaginava que pertencia a um "clã" de gorilas ou de ursos ou de lobos (estes 3 animais), que era aceite por eles como igual. Que era a única humana e que dormíamos todos ao relento, como dormem os animais selvagens, encostados uns aos outros, como as matilhas, e que o calor dos seus corpos me aquecia e me confortava. E também o seu odor animal ácido e doce, simultaneamente. E assim, adormecia. Tenho muita pena de não apenas um animal.

Lâmina d'Água & Silêncio disse...

Bem se vê que o grau de parentesco não fez bem aos dois lados... Um está sendo exterminado e o outro parece andar prá trás...

Beijo!!!
ò,ó

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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