Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











terça-feira, abril 25, 2006

Diamantes com sangue

Sabem como são financiados os partidos políticos em Angola? Pelo orçamento do Estado, claro, como em todo o Mundo, mas, Angola ensaiou uma originalidade. Pelo menos um dos partidos políticos, a UNITA, beneficiou da concessão de uma mina de diamantes numa das regiões diamantíferas mais ricas do país, na Lunda Norte. Que se saiba, só a UNITA tem um benefício do género… isto se considerarmos que o MPLA é uma estrutura independente do Estado, o que é tema controverso… A UNITA está, agora, a negociar com empresas mineiras estrangeiras a prospecção e exploração da sua concessão diamantífera. Para muitos dirigentes do Galo Negro, a exploração dos diamantes é coisa familiar, já que foi com eles que a UNITA sustentou uma guerra de quase 30 anos contra o governo angolano. Mas, antes, essas pedras eram conhecidas por “diamantes de sangue”, por serem, precisamente, o sustentáculo da guerra… há mesmo quem pense que boa parte da vontade de fazer a guerra, durante tantos anos, se deveu à questão de como dividir a riqueza do país. Eu acho que, pelo menos para Jonas Savimbi, a única coisa que lhe interessava era o exercício do poder e não o manuseamento do dinheiro. Mas em relação a outros dirigentes da UNITA já não tenha tantas certezas…
Digo isto, embora saiba que desde 1994 ficou estipulado uma determinada divisão das riquezas naturais do país. Mas enquanto Savimbi viveu, mesmo nos curtos períodos de paz que existiram, esse clausulado redigido nos Acordos de Lusaka nunca foi accionado. Talvez porque a UNITA considerasse que não necessitava de negociar aquilo a que teria direito pela natureza das coisas… a verdade é que até tanques de assalto e carros blindados a UNITA conseguiu colocar dentro de Angola, para já não falar em mísseis Milan, katiuskas, ou qualquer outro tipo de arma ligeira. A UNITA só não conseguiu ter força aérea. Foi o grande handicap da máquina de guerra de Savimbi. Mas esteve quase…
Hoje, esses diamantes malditos continuam a aguçar a cobiça dos angolanos. Para além do papel que desempenharam no financiamento da UNITA, agora os diamantes são uma das principais fontes de enriquecimento dos funcionários superiores governamentais e das altas patentes militares. O regime também lhes atribuiu concessões diamantíferas como recompensa pela fidelidade… e esses fiéis são, agora, os tais “parceiros” tão procurados pelos empresários ocidentais sedentos de triplicarem os seus investimentos nos três dias seguintes…

2 comentários:

ELCAlmeida disse...

Esta é uma das nossas originalidades em África. Partidos terem direitos de exploração de actividades mineiras. É que nem criam Fundações ou empresas "fantasmas" para isso. Para quê? Pelos são mais "honestos" que as suas congéneres eurrpeias ou norte-americanas que utilizam entidades privadas para os mesmos fins.
Mas, mesmo assim, não deixa de ser inacreditável e estarmos a fazer uso de um Protocolo com cerca de 12 anos.
Abraços
Eugénio Almeida

Maite disse...

Caro Carlos Narciso
"...há mesmo quem pense que boa parte da vontade de fazer a guerra, durante tantos anos, se deveu à questão de como dividir a riqueza do país." Ora aqui está uma ironia inefável! Até os símios resolveriam facilmente esse dilema. Os "angolanos" nunca souberam e continuam a não saber dar a volta à coisa, é o que é. Um problema de díficil solução, por isso voltam lá os portugueses.
A liberdade tornou-se nisso (quem é que consegue amealhar mais no menor tempo possível passando por cima de quem quer que seja -
pensamento terceiro mundista, dizem os europeus, sempre prontos a ajudar).

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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