Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











quarta-feira, maio 17, 2006

O Brasil em guerra

A vaga de atentados contra a polícia e as estruturas do estado no Brasil tomou proporções alarmantes. Claro que mesmo numa cidade como São Paulo, onde só ali vive o dobro da população de Portugal inteiro, a morte violenta de 130 ou 140 pessoas não deixa de constituir um facto assustador.

manchete do Diário de Notícias, ontem

Mas o que mais assusta, penso eu, é o desafio das organizações criminosas que não hesitam em iniciar uma guerra contra o estado. O que também assusta muito é a percepção de que há franjas da sociedade que estão dispostas a tudo, como se nada tivessem a perder. Atacam, só pensam em matar, dedicam-se à vingança, como se também quisessem morrer vendendo caro a sua morte. É uma espécie de suicídio, a não ser que os tipos que se meteram nisto pensem que têm alguma hipótese de derrotarem o Estado. Mas, depois disto, ninguém espere que a polícia brasileira tenha respeito pelos direitos dos que lhes caírem nas mãos.

favela Rosinha, Rio de Janeiro

O crime no Brasil há muito que é um fenómeno bastante visível. Nos anos 80, na minha primeira viagem ao Rio de Janeiro, lembro-me de ter lido nos jornais cariocas que, só no Rio, a média diária de vítimas mortais do crime era superior à média de mortes da guerra do Vietname. E, algumas noites, da janela do quarto do hotel em Copacabana, que em vez de dar para o mar dava para uns morros, lembro-me de ver o risco característico das balas tracejantes, em batalhas de um morro contra outro pelo controlo das bocas de fumo e de zonas de prostituição.

7 comentários:

escrevi disse...

É realmente terrível a situação no Brasil.
A foto, não a tinha visto ainda e impressionou-me imenso.
A questão do crime organizado é velha, lembremo-nos da Mafia, ou da CIA, sendo que depende da classe social/cultural/económica a que pertencem os dirigentes, o serem mais ou menos discretos nos crimes que cometem.
E há outros, na Bolívia, na Argentina, na Arábia Saudita.
Enfim, crime é crime mas choca sempre mais quando a reportagem é em directo.

125_azul disse...

Trabalhei 2 anos num presídio de segurança máxima em SPaulo e digo-te que esta guerra de hoje não é uma guerra dos pobres, movida pelas desigualdades. A desigualdade pode ter estado remotamente na origem, mas esta guerra é, como todas as outras, uma guerra pelo poder. O PCC (Primeiro Comando da Capital) é liderado por ricos e poderosos e esta é só mais uma das afirmações do seu poder... Há uma piada no Brasil que diz que Deus deu terramotos, furacões, desertos... ao Brasil, não só não deu isso como ainda deu ouro, petróleo, madeiras preciosas, solo riquíssimo.
A desgraça foi o povo que lá pôs!
Apesar de politicamente incorrecta,parece-me espelhar o momento de dor, medo e conflito que hoje aprisiona o Brasil. Tenho pena, é um país maravilhoso, cheio de pessoas idem.

Carla disse...

Olá
Foste o reflexo eleito da minha fantasia green, publiquei o teu comentário, com o respectivo link, espero que nao te importes.
bjx

Anónimo disse...

Para mim o grande problema do Brasil é político que,tal como Portugal, destaca-se pela incompetência e o desleixo que permite o agravamento de situações facilmente resolvíveis se tratadas deste o primeiro minuto.Este problema enraiza nos anos 60 com a chegada de migrantes do interior às grandes cidades que se foram fixando nos arrabaldes,originando as favelas-e o preconceito de cariz racial e as ditadura também não ajudaram muito. No fim da ditadura, nos anos 80,quando o Brasil parecia poder arrancar rumo a um futuro melhor,pelo menos os brasileiros acalentavam esse sonho,a incompetência política crónica e a influência asfixiante dos EUA voltou a surtir efeito.Como no caso da Engesa que chegou a desenvolver um tanque de guerra (o Main Battle Tank, chamado Osório em homenagem ao patrono do exército brasileiro)que rivalizava com o americano Abrams e o inglês Challenger;e esteve prestes a ser vendido para a Arábia Saudita, mas devido à influência americana isso foi por água abaixo:a impresa faliu,os sauditas optaram por comprar a uma impresa americana e o exército brasileiro continua a comprar equipamento em segunda mão a franceses,ingleses e americanos.O presidente Collor de Mello em vez de tentar salvar a empresa encomendando tanques para servir o exército brasileiro-permitindo assim à empresa colmatar a dívida-preferiu deixá-la falir.Diga lá se isto não é ser incompetente...assim percebe-se melhor a situação actual.

Isabela Figueiredo disse...

O estado não tem qualquer significado para a maior parte deles, não os defende, não lhes assegura obrigações nem direitos, justamente.
O Estado não tem credibilidade. O crime organizado é o Estado. Garante-lhes melhor sobrevivência. A troco de quê não interessa. Vive-se.

CN disse...

Isabela, que saudades...

SV disse...

É uma pena que um país rico de cultura, recursos naturais e de cidades pujantes se deixe destroçar assim. A imagem do Brasil alegre, de harmonia entre os povos está indo pelo ralo.

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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