Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











domingo, janeiro 07, 2007

Bissau, acerto de contas

Bissau, Julho de 1998

Para onde vai Nino Vieira? Para que quis ele voltar à Guiné-Bissau e à presidência do país? Será só para se vingar dos que o depuseram em 1999? Os últimos acontecimentos indiciam isso. Lamine Sanhá, ex-Chefe do Estado Maior da Armada foi assassinado a tiro. Morreu ontem, depois de agonizar vários dias no depauperado Hospital Simão Mendes, em Bissau. Lamine Sanhá foi um dos apoiantes da rebelião de Ansumane Mané. Outro próximo do falecido chefe da saudosa Junta Militar foi espancado no passado dia 21. Silvestre Alves, dirigente de um pequeno partido sem representação parlamentar, foi atacado de noite, numa rua de Bissau, por quatro homens que se faziam transportar num carro igualzinho ao do Conselheiro presidencial para a Informação, Baciro Dabó, um fiel homem-de-mão de Nino Vieira. Baciro nega ter tido qualquer envolvimento no assunto e como o carro tinha a matrícula tapada, não se pode provar que está a mentir. Baciro e Nino parecem ter sete vidas e quererem gastá-las a matar adversários políticos. Mas quantas ainda lhes restarão?
Em 1999, quando Nino se refugiou na Embaixada de Portugal, para evitar ser apanhado pelos revoltosos, Baciro teve menos sorte. Relembrem a foto e este post…

Bissau, Maio de 1999

Tenho vários episódios passados com o bom do Baciro. Um dos mais interessantes passou-se na tomada de posse do governo de transição chefiado por Francisco Fadul, ainda em 1999. A cerimónia serviu de pretexto para se abrir a cidade, pela primeira vez desde que a guerra tinha começado. Sob protecção das tropas da Ecomog, Ansumane dirigiu-se numa coluna automóvel para a antiga Praça do Império, onde está o Palácio Presidencial. Havia uma multidão nas ruas a aplaudir o herói do povo. Para Ansumane, deve ter sido um momento único na sua vida. Para entrar no palácio estavam dezenas de jornalistas, portugueses, franceses, senegaleses e de muitos outros países africanos. À porta, Baciro Dabó. Era ele quem escolhia os que entravam. Parecia um porteiro de discoteca fatela. Quando percebi que não ia entrar, desatei aos gritos. O som dos protestos chegou dentro do palácio aos ouvidos de José Lello, o Secretário de Estado da Cooperação do Governo português, que integrava a comitiva de Portugal. Foi ele quem desbloqueou a situação. Não ficou ninguém à porta. Baciro e eu nunca nos demos bem.

2 comentários:

Didinho disse...

Carlos,
Tu és dos poucos jornalistas com registos de testemunhos da guerra de 98/99.

Estaremos sempre atentos e agradecidos aos teus comentários e análises sobre esse período.

Vamos continuar a trabalhar!

Um abraço

Didinho

Barão da Tróia II disse...

Caro amigo, a Guiné continua sem rumo, Nino é um tiranete, disso não restam dúvidas, enquanto essas lutas intestinas dizimarem um ou outro dos comilões de serviço, não advém mal ao mundo, o pior é que são sempre os mais fracos que apanham com o estoiro da bomba, que o digam as populações dessa pobre Guiné. Boa semana.

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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